Centro de Estética Carla Tozo

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Relógio Biológico Masculino também não para!


O relógio biológico que tanto assusta as mulheres que desejam, um dia, tornarem-se mães foi por muito tempo ignorado pelos homens. A ideia dominante era a de que a paternidade, ao contrário da maternidade, poderia ser vivenciada em qualquer etapa da vida. Os exemplos mundo afora ajudaram a consolidar a crença de que a fertilidade masculina não se alteraria com o passar dos anos. O ator e diretor Charles Chaplin, por exemplo, foi pai de oito filhos. O último deles, Christopher James, nasceu em 1962, quando o criador do famoso personagem Carlitos tinha 73 anos. Aos 68 anos, Ronnie Wood, guitarrista dos Rolling Stones, teve filhas gêmeas, a mesma idade em que o cantor Rod Stewart virou pai de seu oitavo herdeiro.

Embora grande parte dos homens ainda tenha a convicção de que o tic-tac do relógio biológico não os atinge, estudos indicam justamente o contrário. — Há cerca de dois anos, algumas pesquisas demonstraram que a fertilidade masculina diminui conforme a idade avança. Com o envelhecimento masculino, sabemos que as taxas de sucesso de fertilização in vitro são alteradas negativamente — explica Maurício Rubinstein, membro titular da membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia.

Sociedade Diretora do Vida — Centro de Fertilidade e especialista em reprodução assistida, Maria Cecília Erthal complementa:

— A fertilidade masculina diminui a partir dos 40 anos. A idade adiantada do homem, além de abreviar a possibilidade de uma gravidez, também pode influenciar no desenvolvimento de doenças congênitas — diz a médica, lembrando que existe a alternativa de congelamento do sêmen. — Mas são raros os homens que fazem esse procedimento.

A consciência de que não é um super-homem e o desejo de participar intensamente da criação dos filhos estão gerando novas questões para o homem contemporâneo. Somam-se a isso mulheres cada vez mais independentes, que adiam a maternidade ou que, muitas vezes, decidem simplesmente não ter filhos. E aí, a ansiedade, sempre associada às mulheres nesse quesito, pode bater forte no peito masculino.

O engenheiro Renato Calvão Barbuto, de 65 anos, percorreu uma longa travessia até se tornar pai. Aos 28 anos, conheceu sua primeira mulher. Nascido no seio de uma família mineira, com direito a muitos irmãos, tios e primos, ele ele se casou com uma americana de 31, que morava sozinha em São Francisco desde a adolescência.

— Ela foi uma das precursoras do movimento hippie. Nós nos conhecemos em Aimorés (MG) e em três meses estávamos vivendo juntos. Ela me disse que não podia engravidar. Com o passar do tempo, percebi que não queria a responsabilidade que o filho traz — pondera Renato.

Ao longo da relação — eles ficaram casados por 13 anos—, o engenheiro sentiu a necessidade de formar uma família.

— Os elementos da minha criação vieram à tona. E o fato de minha ex-mulher não querer filhos esvaziou a nossa convivência.

O destino se encarregou de dar um desfecho para as diferenças do casal. Insatisfeito, Renato teve um caso extraconjugal, que resultou numa gravidez.

— Disse que iria assumir as crianças. Ela não aceitou, e a gente se separou. Infelizmente, os bebês nasceram prematuros e não resistiram — conta Renato, que entrou em depressão. — Foi tudo muito pesado. Tempos depois, minha nova namorada engravidou. Tivemos uma filha, mas não ficamos juntos. Com a minha atual mulher, com quem tenho uma filha de 17 anos, a gravidez foi planejada.

No caso do ator Marcio Fonseca, 46 anos, o planejamento teve efeito inverso. No primeiro casamento, o sonho de ser pai foi adiado devido à instabilidade financeira. Casado pela segunda vez, ele e a mulher, a coach Marcela Araújo, de 30 anos, resolveram que tinha chegado a hora. Por um ano, tentaram engravidar, mas não foram bem-sucedidos.

— Desistimos do projeto e decidimos não correr atrás de tratamentos, apesar de a paternidade ser um grande desejo meu. Neste momento, comecei a pensar que existiriam outras formas de deixar um legado, poderia contribuir com o meu trabalho de ator. Sem filhos, teria mais tempo para melhorar o mundo para quem estivesse nele — analisa.

Mas o melhor estava por vir. No que Marcio e Marcela relaxaram, chegando a trocar de plano de saúde e optar por um menos abrangente, o universo trabalhou em silêncio.

— Estamos grávidos de quatro meses. Nós tomamos um susto, mas foi sem querer querendo.

Além da preocupação com a passagem implacável do tempo, a cobrança social também é realidade para homens que demoram a se tornar pais.

— É quase uma prerrogativa. Rola uma ansiedade quando 90% dos amigos têm e você ainda não. Ontem, um deles, que foi pai aos 24 anos, me mandou uma mensagem contando que vai ser avô — diz Marcio, que se prepara para cuidar do primeiro rebento. — Vou precisar de paciência, dinheiro e coluna. E pretendo respeitar as minhas limitações. Afinal, aos 50 anos, terei um filho de 4.

A tal pressão social também foi identificada pelo fotógrafo Eduardo Alonso, de 65 anos, pai de Antônio, de 13.

— Primeiro para casar, e só me casei aos 40 anos, depois para ter filhos. Mas isso nunca me afetou, a hora chega. Acabaram cansando de me pressionar — brinca ele, que adorou ser pai mais velho. — É uma delícia, rejuvenesce. O único senão, caso Antônio seja lento igual a mim, é que não vou ver meus netos.

Aos 52 anos, solteiro e sem filhos, o fotógrafo Ricardo Fasanello não desconsidera a possibilidade de ser pai.

— Não dá para fechar porta alguma na vida. De repente, eu caso e tenho três filhos. Mas é claro que existe um pico reprodutor para homens e mulheres — diz Ricardo, que recentemente viveu uma relação na qual o assunto foi descartado pela namorada.

— De 2015 a 2017, tive uma relação com uma francesa. Quis discutir esta possibilidade, mas ela nem topou conversar, deixou bem evidente que não tinha a menor vontade de ser mãe. Isso foi um dos motivos que provocaram o nosso afastamento.

Para ele, o desejo de ser pai está condicionado a uma história de amor:

— Cresci numa família amorosa. Quero me envolver na educação daquele ser humano. Já cheguei a pensar em arrumar uma amiga legal que desejasse ser mãe, mas as minhas melhores amigas ou já tiveram filho ou não têm mais idade para isso.

Para o psicanalista e membro da Escola Letra Freudiana Bruno Netto dos Reys, a paternidade continua sendo um ideal social.

— O desejo de deixar uma descendência é uma questão para todo ser humano. No passado, isso era uma obrigação; hoje é uma escolha — avalia Bruno. — Vivemos numa época em que os amores são líquidos, fluidos. As pessoas podem se vincular sem necessariamente querer formar uma família. Essa realidade traz novas questões para os homens. E não basta ser pai, é necessário participar.

Segundo o psicanalista, a possibilidade de se casar várias vezes também resultou numa configuração familiar inédita.

— Existem aqueles que têm levas de filhos, beneficiando-se da experiência anterior e de ter mais tempo disponível na maturidade. E também o pai mais velho de primeira viagem que precisa estar pronto para atender às demandas de uma criança. É um novo mundo — conclui.


Nenhum comentário:

Postar um comentário